quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ensaio sobre a Loucura, em Terza

Hoje sinto, nada mais me encanta
Nenhuma das vozes que posso ouvir,
dizem-me: "filho te levanta"

A alegria nas cores já não consigo sentir
As pessoas por vezes me ferem
Poucas coisas ainda não me deixam partir

Ainda espero que meus pensamentos de tudo me liberem
Tudo leva-me à beira do abismo
Se alguém eu machuquei, peço que reconsiderem,

pois sou fraco e em mim impera o ceticismo
Uma dor forte no peito
perante esse falso moralismo

O fim agora, mais facilmente aceito
A despeito de meu medo do desconhecido
quero ir em busca do que é perfeito

Aos meus amigos sou e vou agradecido
por sua paciência e amor,
seus paraísos serão merecidos

Não se deixem dominar pelo rancor
Eu ultrapassei a longínqua linha
da depressão e do pavor

Antes sempre, eis que uma solução vinha
mas não agora
A vida parece mais mesquinha

A minha vontade de ir embora
é tão grande nesse momento
Não sei como é lá fora

Perdi a noção do tempo
Acho que simplesmente parei de contar
Saudade é um terrível sentimento

Quase tudo faz-me chorar
E quando uma brisa me arrebata
e penso que irei melhorar

A dor volta e quase me mata
e outra vez, pular é minha vontade
Meu coração se dilata

Pra voltar penso que é tarde
Sei que não terei mais seu colo
Essa convicção, como fogo queima e arde

Na minha vida já fiz solo
Já toquei a harmonia
Hoje por um acorde, eu esmolo

Como uma alma sem alegria
pode ver uma luz na escuridão?
Uma noite pode ser assaz fria

O que daria pra sentir o calor de uma mão?
Toque-me com uma melodia
não me deixe cair na imensidão

Preencha esse vazio, minha guia
Mostra-me outra vez o caminho,
puxe-me num abraço pra perto daquele que tu sabes,
deu-me amor e me ensinou a vida
seu imenso e perfeito, coração...




Hugo Roberto Bher

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Você no meu caminho...


Alguém que não existia...
Não na minha realidade...
Apenas no meu mundo, do imaginário...
Talvez apenas em meus anseios...
Em minha vida de fantasia, era seu rosto...
Que eu sempre via...
Seu jeito, para mim, perfeito...

Nem tão perto que eu possa ver quando eu quero...
Nem tão longe que eu não possa ver quando eu quero...
O sonho, na vida real...
O ver, quando fecho os olhos...
Que sinto sem tocar...
Sentimento, carinho, vontade...

E distância...

Por um segundo posso sentir seu cheiro...
Peço pra uma música te buscar...
E me trazer de volta seus pensamentos...
Pois meus gritos não emitem sons...
Me pega e me leva com você...
Seu colo, meu acalento...
Teus olhos, o castanho...
Dentro deles, eis que a mim mesmo, eu vejo!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Carta para minha mãe.


Mãe querida,
Há pouco tempo, foi levada para longe de mim.
Tu bem sabes, que considero-me um bom tratador de palavras,
Mas não consigo encontrar uma sequer, para descrever com a devida intensidade, a dor que senti e que ainda sinto todos os dias...

Quando viajou para sempre, levou consigo parte da minha vida também.

Mãe adorada,
Ensinou-me tudo...
Mas foi no seu amor que aprendi também a amar.

Foi nos seus olhos e no seu rosto,
Que sempre encontrei a paz.
No seu colo, a segurança,
E no seu abraço a força para viver todas as vicissitudes.

E é na sua falta, que estou aprendendo a saudade, dura, vazia.

Eu, fraco que sou, dizia-te que sentia-me triste, desanimado...sem forças para continuar, pois a vida às vezes é muito dura...
Em meus momentos difíceis, dizia-te, que pensava não haver nada nesse mundo em que eu me sentisse capaz...

Tu ouvias-me...
Tua apenas sorria...
Depois abraçava-me, e dizia que eu não podia pensar assim, pois seu herói, eu era.

Hoje sei, mãezinha,
Tu foste minha Heroína.
Sempre serás...

Quantas vezes tu salvaste-me de mim mesmo?

Perfeita mãe, com todas as imperfeições de mulher.

Não sentirei mais o cheiro do seu café pela casa, quando eu ainda estava na cama...
Nem minhas mãos em seu cabelo,
Nem seu abraço
Nem o cheiro de rosas de seu perfume favorito...

Isso dói ainda mais quando eu lembro.

Alguns dias são mais amenos,
Outros machucam com essa dor que conheci quando você se foi...
A dor do vazio, da falta, da saudade.

Antes de adormecer, peço a deus que deixe-me ver seu rosto ao menos em meus sonhos...
Que deixe-me falar contigo, te abraçar...

Sei que apenas partiu antes de mim, e espero um dia poder te encontrar...
Mas pergunto-me quanto tempo?
Quando tempo para um dia ver-te novamente?

O que me consola, é que viveu o tempo suficiente, para que eu possa sentir o seu amor em minha vida...
E em alguns momentos sei que está perto, e te vejo nos olhos do meu irmão, que sente a mesma falta que sinto, e também o mesmo amor.

Com amor eterno,

De seu filho!

Hugo Roberto Bher


***


Meus amigos, o que vou dizer pode parecer clichê...mas ainda sim creio que vale a pena ser dito...

Muitas vezes vemos a vida tão atribulada...
Coisas banais que prejudicam nossos relacionamentos...
E assim não percebemos que nossa passagem por esta terra e fugaz...logo as pessoas nos deixarão, ou nós podemos deixá-las...
Precisamos ficar mais tempo juntos, expressar nossos sentimentos...cuidar...sentir o calor humano...
Porque daqui nada levamos, senão o amor e o bem, puros e simples.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O peregrino, o Sultão e o Grão de Areia


Sua vida parecia sem sentido.
Tentava buscar as respostas e não conseguia entender os desígnios que a vida lhe propusera.
Estudava as artes, a música, as ciências, religiões, mas sentia-se muito longe do entendimento que julgava necessário.

Decidiu que deveria correr o mundo em sua busca espiritual.
Deixou tudo para trás.

Pela primeira vez em sua vida, sentia que estava próximo, ou pelo menos no caminho certo. No caminho mais correto para saciar sua sede sagaz de conhecimento sobre as questões que trariam paz ao seu espírito.

Descobrir sobre a felicidade, e sua razão de ser, eram seus principais objetivos.

Na Espanha, cerca de dois anos após o início de suas viagens, conheceu um empresário em um cafeteria pela manhã.
Muito eloqüente, criou-se uma empatia entre os dois.
Eis que Caio dirige-lhe a pergunta:

- Meu caro amigo, se permite-me perguntar, és uma pessoa feliz?

- Veja humilde cavalheiro. Pra ser-lhe sincero, nunca parei para refletir sobre isso, porém, sua pergunta leva-me a analisar alguns aspectos de minha vida.
- Tenho uma bela esposa, uma boa companheira e amiga. Também uma maravilhosa mãe para meu casal de filhos.
- Tenho uma grande empresa, cujos negócios ocupam quase todo o meu tempo. De fato não tenho problemas financeiros, possuo tudo que possa proporcionar conforto para mim e para minha família.
- Meus filhos admiram-me e seguem meus passos, trabalham comigo.
- Gozo de uma saúde perfeita, e creio que não há mais nada que a vida possa me oferecer, assim, posso concluir que SIM. Eu sou uma pessoa feliz.

Nessa mesma noite, Caio não conseguiu dormir. O materialismo não podia ser a resposta que procurava. A vida seria parcial demais se assim fosse. Ademais conhecia pessoas que pareciam de fato muito mais felizes do que aquele homem com quem conversara. Precisava de alguns contrapontos.

Resolveu fazer algo que sempre sonhou: percorrer o famoso Caminho de Santiago.

Nesse lugar místico e maravilhoso, no meio de sua caminhada conheceu um monje, ex Bispo de uma Ordem Católica muito conservadora.

Logo pôs-se a fazer a mesma pergunta:

Meu jovem Senhor poderia responder-me se és feliz?

- Meu amigo, seu questionamento direto, não é tão simples de ser respondido, mas tentarei:
- Creio que eu nem deveria estar nesse mundo. Isso motivou minha busca. Sinto-me como uma alma livre presa a um mundo completamente material. Penso que nada aqui pode trazer-me felicidade plena.
- Deixei minha ordem e minha posição na igreja por discordar de alguns princípios básicos. Para mim todo esse mundo é uma falha, e só pude concluir que é a vida além daqui é onde encontrarei minhas respostas. Só não acabo eu mesmo com meu corpo material por não ter ainda plena certeza de meus questionamentos.

Deixou o homem seguir seu caminho sozinho, e ficou a pensar por dias e dias sem sair do lugar, em profunda meditação.

Os conceitos do monge pareciam ser verdade em parte, mas não podia conceber que a vida aqui e agora não tem nenhum propósito.
Tinha consigo a idéia fixa de que TUDO tem uma razão de ser, TUDO.

A despeito de suas desilusões e de seu cansaço físico e mental, continuou a caminhar, agora, um tanto sem rumo.

Vários meses depois, iniciou uma peregrinação pelo Deserto da Arábia.
Sozinho por semanas, sem conhecer o inóspito meio em que se encontrava, seu corpo desfaleceu, e foi encontrado por transeuntes e levado para um oásis no meio do nada.
Acordou e não fazia idéia de quanto tempo ficara desacordado.

Por vários meses trabalhou em uma aldeia dentro do oásis, exercendo várias funções e interagindo com várias pessoas.
Certa vez conheceu um religioso que cuidava pessoalmente do Sultão daquelas terras. Fez-se com este, uma amizade sincera.

Após muito tempo nesse local, Caio explicou sua busca para seu amigo Farah, dizendo que o que faria feliz nesse momento era poder conversar com o grande Sultão, e que este pudesse banhá-lo com um pouco de sua grande sabedoria.

E assim foi feito. Logo estaria diante de um dos homens mais poderosos do Deserto.

***

- Oh grande senhor dessas terras e desses homens, permita um humilde andarilho fazer-lhe uma simples pergunta...

O homem assentiu com um gesto.

- És feliz?

Como se a pergunta o pegasse de surpresa, começou seu discurso:

- homem, sou dono de tudo que seus olhos podem ver e de muito mais do que sua mente pode imaginar.
- Tenho ouro e jóias, em quantias que poderiam suprir alguns países durante muitos anos, que nem eu mesmo sem contar.
- Tenho as mais belas mulheres desse mundo para dar-me prazer.
- Vivo em perfeita harmonia com meus servos, com o Deserto e com os oásis que Alah concedeu-me.
- Tenho sangue dos mais nobres imperadores correndo em minhas veias.
- Todos os dias estudo minha religião com meus sacerdotes.

Então meu caro, acho que já respondi ao seu questionamento.

Siga em paz.

Agora nosso amigo encontrava-se muito mais perdido em sua vida do que quando saiu à procura de respostas.
Desiludido, programou sua viagem de volta para casa.
Farah providenciou-lhe um bom camelo e recursos para seu caminho de volta.

***


Depois de várias semanas vagando pelo deserto, deixou-se cair para admirar o crepúsculo que logo se daria.
Já não tinha esperanças de suprir sua mente intrépida e sedenta.
Deixou-se cair no chão, naquele fim de tarde perfeito.

Não percebeu que adormeceu, para ele era como se ainda estivesse sentado, apoiado em suas mãos, curvadas para trás.

- Olá Caio...é com grande felicidade que obtive a permissão de Deus para falar-lhe.

Estava louco – pensou – ou realmente estava ouvindo um grão de areia falar-lhe?

- Está sonhando nesse momento, mas estou realmente a falar contigo – disse a minúscula criatura como se ouvisse seus pensamentos.

Decidiu então pela recíproca na conversa.

- Prossiga, por favor – disse.

- Creio que seja você quem queira saber de algo não é mesmo?

- Mas como pode você poder dar-me as respostas que preciso?

- Vou ignorar esse pingo de prepotência em seu pensamento e disser assim mesmo o que tenho pra lhe dizer:

- Sim. Sou um mero grão de areia. Mas sim, sou a criatura mais perfeita e mais evoluída que pode encontrar nesse mundo.
- Sou parte integrante desse imenso deserto que perde-se perante seus olhos. Eu e meus irmãos, que números em suas ciências faltariam pra enumerar-nos. Mas sem mim, tudo isso jamais poderia ser completo. Todos os dias exerço minha função, apenas estando aqui, imóvel. Quente durante o dia, e gélido durante a noite.
Estou aqui para ser parte de um todo, assim como você e tudo o que mais há nesse mundo, simples assim. Sou matéria criada pela inteligência suprema de todo esse universo, e meu espírito perpetua na imensidão do espaço e do tempo. Tu estás cumprindo um estágio de sua evolução. Somos feitos da mesma energia cósmica que tudo rege, e que em tudo existe.
Tu não deve procurar a felicidade plena, um dia certamente a encontrará. Terá seu tempo assim como todos...mas o caminho é tão importante quanto a chegada...viva a felicidade em cada passo, aproveite os MOMENTOS felizes da sua existência...sinto que seu caminho parece curto, pois as respostas só existem para aqueles que tem dúvidas e isso você tem e sempre terá.
Um dia serás anjo...
Acorde agora, e siga em paz...

O homem acordou sorrindo, subiu em seu camelo, com todo respeito que conhecia, e seguiu pela noite fria do deserto.

Hugo Roberto Bher