quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Homem Vestido de Preto



Quando era menino, nunca conhecera a felicidade de fato.

Era como se alguém roubasse todos os seus sonhos de criança, como se apagassem todos os seus esboços de sorrisos.

E quando não se sabe o que é sentir-se feliz, adapta-se a isso. Não existindo mais nada, acostuma-se com a melancolia e tristeza.

Apenas não entendia as marcas de sorriso no rosto das pessoas. Para ele, era como se o mundo inteiro estivesse atuando numa grande peça de teatro, como palhaços sorrindo para agradar o público a sua volta.

Ao longo do tempo, começou a se perguntar por que se sentia daquela maneira. Ainda que a vida fosse difícil, entendia que pessoas com mais dificuldades eram, aparentemente, mais felizes.

Porém, era como ele fosse pressionado por alguma força invisível aos olhos, a ser mais que homem, a ser muito mais do que sentia-se capaz algum dia ser.

Certa noite, em profundo estado de meditação, sentiu uma presença sombria e fria ao seu lado. Abriu os olhos e viu um Homem vestido de negro, com o rosto escondido nas sombras tão negras quanto seu traje.

Mesmo sem poder ver seu rosto, sabia que o homem sorria, e não sentia medo. Parecia que não estava mais sozinho.

- Quem é você? Por que sinto que não me és estranho? – Perguntou o menino.

- Sou aquele que te acompanha, tu não precisas saber mais. – Respondia o Homem, sem alterações no tom da voz.

- Por que sinto-me tão triste? – Insistia o menino, ansioso.

- Porque levo o que há de bom em ti comigo, e não devolverei nunca mais.

- Por que tu fazes isso, espectro sombrio? Que mal fiz-te?

- Em teu caminho, ainda não é tempo de encontrares a paz.

- Por que faz-me mal?

- O mal às vezes é o bem, com disfarces de dores e sofrimento. A escuridão é a ausência de luz, para que acendas tu mesmo as velas do candelabro.

- Como faço para que te afastes de mim, sombra?

- Quando encontrares teu caminho, não me verá nunca mais.

O Homem de preto foi afastando-se, quando de repente, voltou os olhos para o menino e disse, como se não quisesse ser interrompido:

- Lágrimas são fraquezas que tu não podes dar-se o luxo de demonstrar.

- O medo constante te servirá para mostrar o quanto estás saindo de onde sentes conforto...o medo também é o caminho.

- A Águia que voa alto, é predadora perspicaz, mas no seu ninho, é vulnerável. Nunca pare de voar.

- Quando sente dor imensa, teu corpo se acostuma, mais forte ficarás.

- Sentimentos são as espadas que pessoas bem intencionadas usam para ferir umas às outras.

- Estou indo menino, e não me chame nunca mais.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Poeta que Não Ama

Das coisas de amor nada sei.
Só entendo daquilo que dói,
pois o amor é nobre, pensei,
e tudo que sinto me destrói.

Imaginei ter amado um dia,
quando vivia nos braços teus;
Em que sempre teus olhos via,
refletindo paz nos olhos meus.

Deixou-me sem dizer Adeus.
Mas não permito-me chorar.
As lágrimas que não podem rolar,
gritam silenciosas no breu.

E assim dentro do meu peito,
como ácido queimam e corroem;
é assim que as dores me constroem,
criando o desumano perfeito.

Do amor, tenho as lembranças.
A saudade é minha dança.
Nostalgia se faz meu manto.
Lágrimas não choro, porquanto,
é de sangue o meu pranto.

Sou poeta que não ama,
Sou do tamanho do vazio.
Mais gelado que o frio,
"maquiavélico" febril...
sou o verso que não clama.


Hugo Roberto Bher