Quando era menino, nunca conhecera a felicidade de fato.
Era como se alguém roubasse todos os seus sonhos de criança, como se apagassem todos os seus esboços de sorrisos.
E quando não se sabe o que é sentir-se feliz, adapta-se a isso. Não existindo mais nada, acostuma-se com a melancolia e tristeza.
Apenas não entendia as marcas de sorriso no rosto das pessoas. Para ele, era como se o mundo inteiro estivesse atuando numa grande peça de teatro, como palhaços sorrindo para agradar o público a sua volta.
Ao longo do tempo, começou a se perguntar por que se sentia daquela maneira. Ainda que a vida fosse difícil, entendia que pessoas com mais dificuldades eram, aparentemente, mais felizes.
Porém, era como ele fosse pressionado por alguma força invisível aos olhos, a ser mais que homem, a ser muito mais do que sentia-se capaz algum dia ser.
Certa noite, em profundo estado de meditação, sentiu uma presença sombria e fria ao seu lado. Abriu os olhos e viu um Homem vestido de negro, com o rosto escondido nas sombras tão negras quanto seu traje.
Mesmo sem poder ver seu rosto, sabia que o homem sorria, e não sentia medo. Parecia que não estava mais sozinho.
- Quem é você? Por que sinto que não me és estranho? – Perguntou o menino.
- Sou aquele que te acompanha, tu não precisas saber mais. – Respondia o Homem, sem alterações no tom da voz.
- Por que sinto-me tão triste? – Insistia o menino, ansioso.
- Porque levo o que há de bom em ti comigo, e não devolverei nunca mais.
- Por que tu fazes isso, espectro sombrio? Que mal fiz-te?
- Em teu caminho, ainda não é tempo de encontrares a paz.
- Por que faz-me mal?
- O mal às vezes é o bem, com disfarces de dores e sofrimento. A escuridão é a ausência de luz, para que acendas tu mesmo as velas do candelabro.
- Como faço para que te afastes de mim, sombra?
- Quando encontrares teu caminho, não me verá nunca mais.
O Homem de preto foi afastando-se, quando de repente, voltou os olhos para o menino e disse, como se não quisesse ser interrompido:
- Lágrimas são fraquezas que tu não podes dar-se o luxo de demonstrar.
- O medo constante te servirá para mostrar o quanto estás saindo de onde sentes conforto...o medo também é o caminho.
- A Águia que voa alto, é predadora perspicaz, mas no seu ninho, é vulnerável. Nunca pare de voar.
- Quando sente dor imensa, teu corpo se acostuma, mais forte ficarás.
- Sentimentos são as espadas que pessoas bem intencionadas usam para ferir umas às outras.
- Estou indo menino, e não me chame nunca mais.
O homem de vestido preto poderia ter razão.
ResponderExcluirAs coisas más servem também para aprendermos o caminho para a verdadeira felicidade.
Adorei o teu texto!
Parabéns!
Abraço grande
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