quinta-feira, 16 de abril de 2009

Trajetória de um anjo...


Meus caros,
Contar-lhes-ei uma breve estória. Prometo que será breve.
Não sei se deveria, mas farei.

Meu nome é Mattheus.

Nasci em Portugal, há muito tempo. Não serei bem específico, pois estejam certos, detalhes não importam tanto nesta minha narração, e bem vos digo que não faz diferença o local onde nasci e cresci, pois todo este planeta é uma prisão. Uma esfera de vícios. Um grande círculo vicioso.

Quando pequeno, achei que houvesse algo errado comigo, pois de tudo eu conhecia um pouco.
Sabia das artes, das ciências e profundamente entendia a natureza humana, e isso era algo que eu gostaria de não saber.
Eu conhecia a matemática e a física, e com facilidade eu entendi as teorias dos grandes gênios que vieram para este mundo antes de mim. Conhecia muitas línguas, as palavras e seus significados.
Eu sabia das estrelas e da lua, das marés e do sol; dos desertos e dos oásis, e também dos sultões.
Não sei como poderia saber tanto, mas simplesmente sabia. E aceitava saber, porém a única coisa que eu não sabia, era onde poderia aplicar tanto conhecimento.
Quando fui jovem, ocupava meu tempo em um monastério, num lugarejo afastado da cidade onde nasci. Não porque era religioso, mas eu adorava aquela biblioteca.

Eu sabia de muitos “porquês” e muitos vinham até mim.

Próximo de completar 17 anos terrestres, tive uma revelação, e não foi difícil aceitar minha missão.
Foi-me dito que eu deveria tornar-me humano para conhecer o mundo e as pessoas, sua natureza, seus medos e todas suas angústias, e de certa forma avaliar as condições desta Terra, e na forma de um relator, deveria dizer à inteligência suprema, causa de tudo, as minhas conclusões.

Quando deixei meu corpo e retornei ao verdadeiro mundo do criador, após um breve período de recuperação, fui chamado à minha responsabilidade.

Eis o que disse:

Meu amado pai, que causa de tudo és...
Tornei-me humano e é com felicidade que deixo o mundo das criaturas para voltar a este plano espiritual...
Não sei se o que ouvirás é aquilo que esperavas...
Mas eu direi...

Eu via a dor,
A dor e a tristeza...
Eu vi os homens invejando uns aos outros...
Eu vi a angústia, o desrespeito e a desunião.

Eu vi seus filhos, sim, seus amados filhos, matando uns aos outros,
E matando também a nossa mãe natureza...
Eu os vi poluindo as águas que criastes,
Matando nossos irmãos, os animais.

Eu os vi envenenando o próprio ar que os mantém vivos, e me perguntei: como pode tamanha imbecilidade?
Eu vi barbáries cometidas por homens, que nem assim deveriam ser chamados, e sim de monstros...

Eu vi mães assassinando seus próprios filhos, a estes a quem deveriam cuidar e proteger.

Eu vi a fome e a miséria,
E pude contar as costelas saltadas aos olhos de várias crianças...
Eu vi o roubo e a ganância...
O egoísmo...a maldade
Vi os abusos dos reis, perante seus povos...
Os olhos esbugalhados de uma criança da África, e sua pele sobre seus ossos, gritando silenciosamente, implorando comida.

Eu vi algumas coisas boas, é claro, mas confesso, infelizmente, foram poucas.

Eu vi a tristeza de Ghandi, depois de ter sido baleado.
Eu vi homens que criavam armas de destruição em massa, ao invés de alimentar o seu povo.
Vi muito sangue na espada de Alexandre, o Grande...seria mesmo grande?

Eu vi a loucura nos olhos de Napoleão, quando derrotado em Waterloo...

Eu senti muitas vezes o pecado na minha própria carne, e muitas vezes eu mesmo sucumbi aos vícios de propriedades humanas.

Eu vi Ricardo Coração de Leão, lutando com Saladino em nome da Terra Santa...
Mas toda terra é santa, meu senhor, pois tu criastes, mas não é assim que os homens vêem.

Eu conheci o fascismo de Mussolini, e o nazismo de Adolf Hitler...
Conheci Dachau, e uma vez o próprio Führer olhou-me nos olhos por um momento.
Eu também vi um sorriso cínico na face da morte quando esta esperava para levar sua alma podre para o umbral...

Eu vi gênios sendo taxados como loucos, quando queriam apenas colaborar para a evolução da humanidade.

Eu vi mulheres sendo queimadas na fogueira, pela “Santa” Inquisição Católica
Ouvi loucuras de homens que matavam civis, dizendo-se seus filhos, meu amado pai, e ainda dizem que fazem isso em seu nome.

Eu vi um soldado de Israel venerando a Estrela de Davi em seu braço, orgulhoso, e 100 afegãos mortos bem à sua frente.


Oh Deus, eu vi crianças com armas nas mãos, e ouvi grupos falando de um futuro melhor...
Será que eles conhecem a realidade ou estão se enganando?

Os homens veneram a futilidade, e ignoram o conhecimento.

Bem aventurados sejam os poetas, que amenizam a dor dessa realidade e nos trazem um mundo perfeito, no imaginário...

Senhor, façais o que quiseres, mas por favor não mande-me de volta...
Guarde em seus braços, as melhores almas...cuide delas, com todo o amor que existe em ti...
Cuidai de minha Mãe...

Mais palavras não fazem jus à minha dor...

Hugo Roberto Bher

5 comentários:

  1. Que bom que descobriu meu blog que esta em fase de criação...
    Sou a Chrys...
    Reveladora de emoções em minhas escritas...
    Gosto do belo e o belo para mim é o AMOR sobre todas as coisas e sentimentos...
    Amei seu blog...
    Fez-me bem estar aqui...
    Então serei seguidora do seu blog e com certeza lhe trazendo sentimentos bons...
    Tenha um belo dia...
    Sua narração teve excelência em mim...
    BJKS...
    Chrys
    ;)

    ResponderExcluir
  2. Lindo texto chegou a me arrepiar....

    ResponderExcluir
  3. Nestes tempos difíceis de crise economica identifica-se a crise que abala a alma do homem. Perde-se o senso de valores como se tivessemos dentro de um balaio onde existem apenas duas coisas: vicios e virtudes. A maioria volta-se ao fanatismo e poucos à Luz do conhecimento.
    Encontrei muita reflexão em seu texto, Hugo.
    Saudações.

    ResponderExcluir
  4. Não sei vocês, mas essa parte mexeu comigo:

    Eu vi a fome e a miséria,
    E pude contar as costelas saltadas aos olhos de várias crianças...
    Eu vi o roubo e a ganância...
    O egoísmo...a maldade
    Vi os abusos dos reis, perante seus povos...
    Os olhos esbugalhados de uma criança da África, e sua pele sobre seus ossos, gritando silenciosamente, implorando comida.

    Pensei no quanto nessa vida às coisas nos entristecem mesmo sem nos direcionar suas ações...
    Em ver o sofrimento alheio.

    ResponderExcluir