quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Era uma vez...




Era uma vez um menino, que caiu do colo do Pai.

O Pai olhou para o filho caído, mas pensou que seria muito trabalho curvar suas costas e abaixar-se para levantá-lo.

O Pai muito poderoso que era logo pensou que poderia ter outros filhos, e que não precisaria dar-se o trabalho de ocupar-se com aquele que caiu dos seus braços, quando brincava com sua enorme barba grisalha.

O menino ferido olhou para o alto, vendo seu grande Pai virar-lhe as costas.

Seu corpo ferido pela queda não doía tanto quando a sensação estranha que surgia no seu peito. Nunca havia sentido aquilo, pois sempre vivera no paraíso.

Seus olhos fecharam-se em pranto, enquanto seu peito era apertado por algo desconhecido, uma angústia, uma aflição terrível.

Por muito tempo ficou sozinho, chorando no escuro, gritando silenciosamente por ajuda. Mas no fundo sabia que havia sido esquecido, e apenas queria entender o que havia feito de tão errado.

Foi quando um anjo do céu compadeceu-se da situação do menino, porém não podia tentar persuadir o grande Pai a levantá-lo do chão.

Mas quando olhou para os olhos da criança, pensou que não podia permanecer no paraíso, bebendo das mais frescas águas e alimentando-se das mais saborosas frutas, enquanto alguém sofria tanto, sem nada fazer para tal expiação merecer.

A despeito do medo de talvez não poder mais voltar, desceu até o menino para resgatá-lo, e logo percebeu que no momento em que jogou-se do alto, perdeu a sua graça de anjo, não obstante, continuou com determinação.

O menino sentiu alguém colocando as mãos sob sua cabeça e amparando-lhe num colo cheirando a jasmim. Abriu os olhos e viu uma linda mulher abraçando-lhe.

A partir daí, criou-se um amor fraterno incondicional, entre mãe e filho.

Enquanto o menino era pequeno, a mãe cuidou de toda a manutenção de seus proventos e de sua educação.

Percebeu que conforme o filho crescia, tornando-se um virtuoso homem física e moralmente, também ficava mais evidente toda a revolta que tinha em seu âmago pelo descaso de seu Pai.

Mas sabia que apenas o amor pode combater o ódio, e assim, aquele anjo amou tanto aquela criança, que poucas coisas no mundo poderiam ser mais belas que aquele sentimento.

O menino tornou-se homem. Um grande sábio e guerreiro.

Vivendo em épocas de grandes tormentos, livrou muitos povos da opressão avassaladora e era visto por muitos como realmente um soldado de Deus.

Seu Pai começou a prestar atenção naquele homem que era tão bem visto e logo percebeu que tratava de seu filho caído e só então percebeu que um anjo faltara em seu paraíso.

A princípio ficou com muita raiva por aquele anjo ter agido sem consultar-lhe, mas depois começou a perceber que o erro cometido em não ter buscado o menino quando este caíra, não foi de fato um erro, mas sim um mecanismo de sua imensa sabedoria e que tudo estava certo.

Decidiu usar isto a seu favor.

Certo dia o menino, agora crescido, lavava-se à beira de um riacho, quando ouve uma voz deveras familiar chamando-lhe:

- Filho meu, vejo que grande homem tornou-se.

Quando percebeu de quem se tratava, sentiu uma enorme sensação de raiva vindo-lhe ao peito...

- Não chame a mim de filho, pois não tenho pai há muito tempo. Viraste-me as costas de deixaste-me para morrer sozinho.

- Filho meu, veja como tudo acontece certo por caminhos errados, fale em meu nome, diga ao povo que age em meu favor, e faça-me bem visto por todas estas pessoas, que serás bem recompensado.

Com a ira tomando-lhe o corpo, o menino tentou atacar o homem que desaparecera na sua frente como num passe de mágica.

Foi correndo ter com sua mãe, que disse-lhe apenas para perdoar e buscar novamente a paz em seu coração; mas esta sabia que o menino não ia conseguir conceber isso, e até entendia.

O grande Pai sentado em seu trono de diamantes sentiu-se humilhado pelo filho, e só pensava em vingar-se para inflar ainda mais seu ego sem fim.

Depois de algum tempo, o menino e sua mãe, começaram a perceber que parecia que a vida estava conspirando contra eles. Começou a faltar-lhes tudo. As coisas não aconteciam mais como antes, por mais que lutassem.

Em pouco tempo sucumbiram às intempéries e foram abarrotados por uma miséria de origem certamente sobrenatural.

Numa manhã o menino chega a casa, com um pedaço de pão envelhecido e uma pasta de doces que ganhara como pagamento de algum trabalho realizado, quando viu sua querida mãe sendo levada por um ser não físico, que sobrevoava o seu corpo. Reconheceu apenas a barba grisalha...saiu correndo em direção à sua mãe mas encontrou apenas aquele corpo já sem vida.

O menino caiu de joelhos e gritou para o alto:

- PAI, devolve meu anjo, devolve minha mãe...serei teu escravo se assim for preciso!

Ele apenas escuta uma voz:

- Ela nunca foi SEU anjo...e nunca será, nem nunca a verá novamente. Dedique sua vida inteira a mim, faça-me os maiores sacrifícios, adore-me, tema-me e talvez um dia eu possa deixar que a veja.

O menino agora não sabe mais a quem rezar. E também jamais aceitaria as condições estabelecidas. Era um guerreiro e tornar-se-ia o mais fortes dos Titãs, e derrubaria o céu se preciso, para pelo menos mais uma vez, abraçar o ser mais puros de todos os mundos...O anjo do coração...personificação de todo o amor que conheceu...a sua Mãe.

Era uma vez um menino, que caiu do colo do Pai...

2 comentários:

  1. será que vejo alguma semelhança a uma determinada história..
    my hero.

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  2. Então quer dizer, que o livro que me indicaram foi escrito pela mesma pessoa que eu vim agradecer por estar seguindo meu blog? Puxa, que honra.

    Quem me recomendou seu livro foi a Lari (Larissa Cristini), prazer e obrigada por fazer parte da parte (opa! haha) que me toca.

    Abraços.

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